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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

As Teologias Feministas

No passado dia 18 de Novembro foi criada em Lisboa a Associação Portuguesa de Teólogas Feministas, resultante do Colóquio Internacional de Teologia Feminista. Um grande momento para o futuro. Nesta associação contam-se quatro mulheres que lançaram mãos à obra e apresentam-se como o rosto desta "armada" que intentam iniciar, que esperamos que seja longo o seu caminho e muito prometedor para a viragem na hermenêutica, na linguagem e em todas as atitudes puramente masculinizadas e radicadas no poder e não no serviço. Elas são: Maria Julieta Dias, freira das religiosas do Coração de Maria, Teresa Toldy, teóloga e professora universitária, Fernanda Henriques, professora de filosofia na Universidade de Évora e Maria Carlos Ramos, licenciada em Teologia.
O acontecimento reveste-se de uma importância crucial, dado que em Portugal não tínhamos nada de organizado nesta área. Portugal, era o único país da Europa que não tinha uma associação de teólogas feministas. Espanha apresenta já uma vasta acção e profusa reflexão neste âmbito da Teologia Feminista. Acresce-se que necessitamos de trabalhos nesta matéria para que o pensar e acção da sociedade - neste domínio ainda mais as igrejas - se tornem menos masculinizadas e o poder se converta verdadeiramente em serviço tomado do exemplo do Evangelho e a acção de Jesus Cristo.
Segundo Teresa Toldy, tal necessidade radica no seguinte: "a Teologia Feminista continua a fazer sentido no interior do catolicismo. Por causa das imagens androcêntricas de Deus e pela insistência na masculinidade de Jesus como argumento para excluir as mulheres". As linguagens sobre Deus que moldam modos de ver e de configurar a realidade, estão totalmente fora do desejo de Jesus de Nazaré. Não é principal objectivo destas mulheres serem padres, até afirmam claramente não o desejarem para si mesmas, mas antes ajudar a ler e reler todas as imagens de Deus e o papel da mulher na Igreja Católica.
Uma ressalva. Não só na Igreja Católica, mas nas confissões religiosas e até face a todas as religiões, porque as hermenêuticas apresentam visões destorcidas de Deus em todas as religiões. Daí as graves consequências a que estão sujeitas as mulheres e de como o seu papel passa por uma situação de subalternidade em relação à dimensão masculina da humanidade.
Neste sentido, regozijamo-nos com esta iniciativa e desejamos que os objectivos da associação agora criada sejam concretizados. Eles são os seguintes: 1. Contribuir para o aprofundamento da investigação teológica feminista; 2. Criar condições para a troca de experiências de investigação entre investigadoras feministas de Teologia a nível nacional e internacional; 3. Relançar o debate sobre Mulheres numa perspectiva ecuménica - as várias Confissões Religiosas Cristãs e as grandes religiões - em Portugal.
As suas acções concretas passarão para já pela criação de um blog; publicação das comunicações do I Colóquio Internacional de Teologia Feminista; organização do II Colóquio de Teologia Feminista (3º fim de Semana de Novembro de 2012); Elaboração de candidatura à European Society of Women in Theological Research (ESWTR).
Face a esta luz que se forma perante um tema tão importante para o nosso futuro colectivo, desejamos as maiores felicidades e que os frutos desta iniciativa sejam abundantes para todos nós, especialmente, as mulheres cristãs.
Não quero deixar de destacar a conclusão interessantíssima da teóloga alemã Marie-Theres Wacker, que discursou sobre o seguinte tema, "Mulheres que ousaram reconstruir - o ícone do Pai-Deus misericordioso em Oseias, cap. 11". A conclusão da teóloga é a seguinte e onde me parece residir todo o cerne da questão e o objectivo essencial daquilo que se sonha para as Igrejas e sociedade em geral. Diz a teóloga: "as estruturas de sexo e género vigentes já não têm importância, nem para os seres humanos, nem para Deus".
Face a esta visão e para que a realidade enforme este desejo, falta dar passos significativos quanto à reflexão e acções concretas que venham fazer de Deus uma realidade ao serviço da convivência feliz para todas as mulheres e homens. Um Deus que faz acepção de pessoas, unicamente masculinizado e votado ao poder não existe, urge que deixemos Deus em paz e que a nossa hermenêutica radique mais naquilo que não podemos dizer de Deus e menos naquilo que pretensamente achamos que Deus quer que se diga Dele e da Sua vontade. São imensas as barbaridades que se cometeram com base nesta forma de pensamento. Às mulheres pedimos que sejam militantes na procura de caminhos que as dignifiquem e que lutem por modelos de vida na Igreja Católica que as valorizem não como sujeitos passivos facilmente subjugadas ao poder masculino, mas activas na construção de uma Igreja que Jesus sonhou feita de homens e mulheres reunidos à volta da mesa da fraternidade e nada a ver com a estrutura piramidal que subsiste em toda a linha nas igrejas e especialmente na Igreja Católica.
Está lançado o sonho e a viragem será possível quando todos nós nos empenharmos no caminho de Jesus e quando fizermos do serviço do Evangelho a luz que ilumina o pensamento e as nossas acções.
JLR
Imagem: Google

2 comentários:

José Leite disse...

A metamorfose está em marcha. Quem somos nós para lançar grãos de areia na engrenagem? que vençam e que convençam!

Martha Pires Ferreira disse...

Boa nova!Que se resgate a beleza igualitária de Jesus /homens e mulheres de mãos dadas, em partilha comum, para um mundo humano e divino -unus mundus.
Numa monarquia absoluta, atrelada ao poder absoluto,hierárquico masculino,não há mais horizonte.
Homens e mulheres são indistintamente o Cristo Vivo.
martha (brasil-RJ)