A propósito da
decapitação do jornalista americano James Foley, que nas palavras do seu pai «morreu em martírio pela liberdade». Paz à sua alma e que os seu carrascos sejam presos e julgados convenientemente para que sirvam de exemplo pelo fim de todo o género de barbárie que faz este mundo ser tão feio à vezes. Vale a pena ler este brilhante testemunho sobre o
poder da oração… É pena que só por causa da barbárie infligida a Foley nos
tenhamos dado conta da sua fé. Que Deus o tenha no lugar da festa eterna. Bem o
merece. Mais ainda devemos ler este texto como protesto-apelo pelo fim de todas
as formas de terrorismo que fazem este mundo ser tão triste e tão cheio de
sombras de morte.
James Foley,
jornalista americano, que trabalhando na Síria, foi sequestrado e decapitado
pelo Estado Islâmico (ISIS) esta semana, deixou um testemunho sobre o poder da
oração.
James Foley
escreveu para o Marquette Magazine, da Universidade Marquette, que foi
reproduzido na edição eletrónica, a 20-08-2014.
Eis o texto:
«A Universidade
Marquette sempre foi uma amiga para mim. Do tipo que nos desafia a fazer mais e
melhor e que, no final, dá forma a quem nos tornamos.
Com a Marquette,
participei de viagens com voluntários à Dakota do Sul e ao Mississippi e
aprendi que eu era uma criança que tinha tudo num mundo que possuía graves
problemas. Conheci jovens que queriam dar o seu coração aos outros. Mais tarde,
trabalhei como voluntário numa escola de ensino médio em Milwaukee próximo da
universidade, ocasião em que tive a inspiração para me tornar professor. Mas a
Universidade Marquette, talvez, nunca foi a maior amiga para mim do que quando
estive preso.
Eu e duas
colegas tínhamos sido capturados e levados para um centro de detenção militar
em Tripoli, no Líbano. Cada dia que passava, aumentava a preocupação de que
nossas mães começariam a entrar em pânico. Clare, uma das minhas colegas,
deveria ligar à sua mãe no dia do aniversário dela, que foi logo o primeiro dos
44 em que estivemos presioneiros.
Eu próprio ainda
não tinha admitido por completo que a minha mãe soubesse do que nos estava a
acontecer. Mas continuava a dizer à Clare que a minha mãe tinha uma fé muito
forte.
Eu rezava para
que ela soubesse que eu estava bem. Rezava para que pudesse entrar em
comunicação com ela através de algum meio cósmico.
Comecei a rezar
o rosário. Seria o que minha mãe e minha avó teriam feito. Rezava 10 Ave-marias
entre cada Pai-Nosso. Isso tomava-me bastante tempo, quase uma hora para contar
10 Ave-marias com os meus dedos. Isso ajudou a manter a minha mente focada.
Clare e eu
rezávamos juntos em voz alta. Parecia energizante falar das nossas fraquezas e
esperanças juntos, como se estivéssemos num diálogo com Deus, em lugar de silêncio
e sozinhos.
Mais tarde fomos
levados para outra prisão onde o regime mantinha centenas de prisioneiros
políticos. Fui rapidamente acolhido pelos demais prisioneiros e fui bem
tratado.
Certa noite, no
18.º dia de cativeiro, alguns guardas levaram-me para fora da cela. No corredor
vi Manu, outra colega, pela primeira vez numa semana. Estávamos abatidos, porém
felizes por nos revermos um ao outro. No andar de cima, no escritório do
diretor geral, um homem distinto, vestindo fato, de pé, disse-me: «Achamos que
vocês querem telefonar para as vossas famílias.»
Fiz uma oração e
disquei os números. A minha mãe atendeu.
«Mãe, mãe, sou eu, Jim.»
«Jimmy, onde
estás?»
«Ainda estou na
Líbia, mãe. Desculpa por isso. Desculpa.»
«Não precisas de pedir desculpas, Jim. O teu pai acabou de sair. Ele queria
tanto falar contigo. Como estás?»
Disse-lhe que
estava a ser bem alimentado, que tinha uma boa cama e que estava a ser tratado
como um convidado.
«Eles estão a
forçar-te a dizer estas coisas, Jim?»
«Não, os líbios
são pessoas ótimas. Venho rezando para que vocês saibam que estou bem. Vocês
sentem as minhas orações?»
«Ah, meu filho,
muitas pessoas estão a rezar por ti. Todos os teus amigos, Donnie, Michael
Joyce, Dan Hanrahan, Suree, Tom Durkin, Sarah Fang tentam continuamente
telefonar-te. O teu irmão Michael gosta muito de ti.»
E ela começou a
chorar...
«Os seus amigos
estão a fazer uma vigília de oração por ti na Universidade Marquette. Sentes as
nossas orações?»
«Sim, mãe, sinto
sim», e fiquei a pensar sobre isso por uns instantes.
Talvez fossem as
orações das outras pessoas o que me fortalecia, o que me mantinha de pé.
O policia
acenou-me. Quando comecei a despedir-me, a minha mãe começou a chorar.
«Mãe, eu sou
forte. Estou bem. Devo estar em casa para a formatura da Katie.» Faltava um
mês.
«Nós amamos-te,
Jim!»
Em seguida,
desliguei o telefone.
Refiz este
diálogo centenas de vezes na minha cabeça – a voz da minha mãe, os nomes dos
meus amigos, o conhecimento dela da nossa situação, a sua crença absoluta no
poder da oração. Ela contou-me que os meus amigos tinham-se juntado para
fazerem tudo o que estivesse ao alcance deles para me ajudar. Eu sabia que não
estava só.
Tive o primeiro acesso à
Internet na minha última noite em Tripoli, no 44.º dia de cativeiro. Pude ouvir
o discurso que Tom Durkin fez para mim durante a vigília na Marquette. Perante
uma igreja repleta de amigos, ex-alunos, alunos, padres e professores, assisti
às melhores palavras que um irmão pode dirigir a outro irmão. Um grande elogio,
era o que parecia. Naquelas palavras percebi um coração enorme, e elas eram
apenas um punhado de todos os esforços e orações que as pessoas estavam a
fazer. Rezar foi o que permitiu a minha liberdade, uma liberdade interior
primeiramente e, mais tarde, o milagre de ser libertado durante uma guerra na
qual o regime não teve nenhum incentivo para nos soltar.»