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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Apelo aos políticos da nossa terra


Hoje é um dia especial para a nossa terra. Realizadas as eleições regionais, chega o dia e a hora da tomada de posse do governo formado pelo partido mais votado. Outra vez governo do PPD-PSD com maioria absoluta encabeçado por Miguel Albuquerque. Nada de novo debaixo do sol, tudo como se previa.
Algumas coisas vão se alterar profundamente, é normal que assim seja, mas não se diga que estejamos perante um «novo ciclo», porque efectivamente até prova ao contrário, não estamos. Há sim uma continuidade denominada de «renovação» com um grande número dos mesmos que andam na política há muitos anos.
Convém lembrar que nada se alterou em termos sociais. A miséria continua derrama sobre as mesas de milhares de madeirenses. Nem a cidade que não temos, pintada de flores e mulheres bonitas por estes dias consegue a apagar essa chaga.
Por isso, aos novos e velhos políticos que hoje assumem funções governativas e os outros que se vão sentar na casa de democracia, a Assembleia Regional, é legítimo fazer-se um apelo.
Todos sabemos que não há políticas e políticos milagreiros. Ninguém faz milagres, é um dado mais que evidente para todos. Mais ainda se sabemos que a realidade de hoje é da mundialização. O mundo está interdependente e mais ainda nós dependentes do Governo Central, porque foram os últimos anos na Madeira de uma irresponsabilidade grave, que nos deixa dependurados a uma dívida pública astronómica. Por isso, aos governantes novos e velhos pede-se engenho e arte para que a justiça e a preocupação com o bem comum prevaleçam sobre qualquer interesse privado ou de grupo.
O principal apelo que se deve fazer é que com base nesta ideia da mundialização, nós não nos tornemos ainda mais dominados pela ideia da ilha. O isolamento provocado pela arrogância, o insulto e a ideia banal de que somos auto-suficientes até à hora de estender a mão para pedir dinheiro, não pode existir mais. Precisamos de muito espírito aberto à diferença e quebrar as divisões e toda animosidade que estes últimos anos geraram na sociedade madeirense. É preciso acabar com o pensamento único, encomendado aos escribas de serviço do regime que amordaçaram a liberdade de expressão e manietaram completamente a criatividade e o caminho da crítica, aliás, um bem fundamental no espírito da democracia.
Muita atenção à igualdade. As divisões, criam conflitos e miséria que se instala em toda a parte. Não pode continuar a prevalecer a ideia de que quem está na política fica cada vez mais rico. Tem todos os direitos e benesses. A maioria da população é o resto que deve simplesmente contribuir a todo o custo para alimentar estes eleitos. Um mundo com ricos cada vez mais ricos, pobres mais miseráveis. Isto não pode continuar. Não é da justiça que assim seja. Não é humano. Não faz da democracia um caminho simpático para todos. Ajudem a organizar a nossa terra de forma diferente. Não se esqueçam da partilha, mesmo que não se importem muito com a competitividade, que já demonstrou até à saciedade ser a face negra do capitalismo. Não tenham medo de pensar, falar e propor medidas que tenham como fundo a solidariedade, contra a minoria dos interesses dos privilegiados.
Senhores governantes, lembrem-se que a beleza de uma cidade, de um país e de uma região não está apenas em ter monumentos e jardins  esplendorosos, estruturas desportivas de ponta, festas luxuosas com muitas iguarias típicas e com desfiles de flores, mulheres e crianças bonitas... A beleza da nossa região resplandece quando a população tem habitação condigna para viver, quando há emprego para todos, quando a saúde está garantida sem que tenhamos listas enormes de gente à espera de uma cirurgia ou lhes falta camas e outros elementos necessários para ser tratada nos hospitais ou quando vai à farmácia e tem condições monetárias para aviar as suas receitas.
A beleza da nossa região está na possibilidade das nossas crianças e jovens puderem ir para a escola sem fome e aí encontrarem um ambiente saudável de convivência humana, familiar, porque sem violência e com todos os meios necessários para estarem seguros aprendendo os valores e adquirindo sabedoria para o seu e nosso futuro, porque a nossa escola, afinal, permite trabalho a sério, lazer para todos, para que aí possam crescer felizes e despertarem para o sentido da dignidade de virem a ser cidadãos verdadeiramente empenhados na construção do bem comum.
A beleza da nossa região está no seu povo quando está feliz, porque lhe foi proporcionada a possibilidade de ter tempo para trabalhar, para o lazer e desabrocha com dignidade para a vida, à luz das medidas justas que os políticos eleitos souberam implementar.
A beleza de uma região está na ausência de ter que estender a mão à caridade para matar a fome. Acabem com o oceano de instituições de caridade que proliferam nos últimos anos como cogumelos entre nós. Ponham fim a este estado de pedincha onde uma larga maioria pede e a outra anda mais que esfolada a pagar impostos astronómicos e quase mensalmente ser perseguida à porta dos supermercados para dar esmolas para os pobres. Não, isto não embeleza o nosso povo e a nossa região!
Senhores governantes não fiquem fechados nos seus confortáveis escritórios e nos espaços oficiais que o cargo vos permite, venham ao encontro das pessoas, procurem saber do que falta na casa daqueles que ficaram sem emprego e que têm filhos para criar. Vão aos nossos hospitais e comecem a vossa caminhada pelas urgências até às enfermarias, onde estão muitos conterrâneos nossos a sofrer. Não tenham medo das pessoas e não se fechem debaixo da auréola da importância do poder, permitam que a realidade se vos imponha e não deixem de se comover com ela se for o caso.
Fica este apelo singelo e que o dia de hoje seja de facto o dia D, não para um partido político, para o grupo dos governantes e para toda a máquina que se tem alimentado do bolo do orçamento regional, mas para todo o povo da Madeira. Esta é a nossa esperança, mesmo que tenha alguma ingenuidade à mistura. O sonho comanda a vida e a vida sem sonho é miséria cruel.

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