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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Nem tudo o que luz é ouro

Continuamos à procura da luz. Hoje na Igreja de São Roque às 20 horas...
Sétima Novena
Novena da Mocidade
Este é um grande desafio da nossa existência. Saber escolher a melhor parte, para que a felicidade e o sentido da vida sejam uma realidade muito forte no coração de cada homem e mulher. A humanidade não é feliz e continua enterrada na miséria porque não encontra a melhor parte. É preciso descobrir qual é a sabedoria que nos conduz à verdadeira escolha. A melhor parte depois de descoberta nunca mais lhe será tirada.
Sempre senti uma grande simpatia e encanto particular pelo episódio contado por São Lucas no Seu Evangelho. Diz assim o autor com a sua delicadeza cirúrgica referindo-se a Jesus: «Estando em viagem, entrou num povoado, e certa mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra. Marta estava ocupada pelo muito serviço. Parando, por fim, disse: ‘Senhor, a ti não importa que minha irmã me deixe assim sozinha a fazer o serviço? Diz-lhe, pois, que me ajude’. O senhor, porém, respondeu: ‘Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só importa. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada’» (Lc 10, 38-42).
Também o realizador Fassbinder me fez pensar nesta passagem da Escritura, quando vi o seu filme magnífico «Marta». Nessa ocasião senti que o realizador tinha rezado este momento da vida pública de Jesus.
A questão que se coloca é a de se saber escolher a melhor parte na vida e para a vida. Mas, qual será o conteúdo da melhor parte? A melhor parte terá de ser uma descoberta pessoal e única para cada pessoa. Só Deus na pessoa de Jesus, pode identificar-se como sendo a melhor parte, mais nenhuma criatura reúne condições para impor o que quer que seja a ninguém. A melhor parte é sempre Deus e a Sua Palavra.
A partir destes pressupostos, vamos tentar delinear alguns aspectos que nos ajudem a descobrir a melhor parte. Antes de mais, é preciso perceber o carácter incondicional na nossa vida. Muito da vida de cada um de nós assenta nessa base. A incondicionalidade deve ser uma constante em todas as opções. Por isso, nada deve perturbar a escolha das opções que se pretenda realizar, para que sejam verdadeiras e sinceras todas as escolhas.
Toda a escolha implica uma renúncia. A nossa vida está cheia desta experiência. Quantas escolhas foram feitas e que depois implicaram elevados sacrifícios e renúncias incontáveis? Desta realidade está cheia a vida deste mundo e não nos parece que tal seja uma desgraça, mas antes, uma riqueza extraordinária que se descobre no coração da humanidade.
A ideia de escolha de Deus é muito diversa da nossa ideia de escolha. Para nós a escolha implica muitas considerações vantajosas, pessoais e para o âmbito familiar. Deus escolhe de modo distinto. Na Sua ideia de escolha não está presente a exclusão de ninguém. Deus chama e escolhe alguns para que todos se deem conta de que são amados. A base da escolha de Deus é sempre o amor não apenas por alguns, mas o amor por todos.
Neste sentido, aprendemos agora que as nossas escolhas teriam outro valor e outro sentido se estivessem sempre como base o amor. As opções pelo matrimónio ou pela vida religiosa de modo especial, não acertam, por vezes, porque não estão fundamentadas naquilo que é essencial. Deste modo, feita a escolha, faço a fundamentação não em mim e nas minhas convicções pessoais, mas em Deus. A Sua Palavra e o Seu amor por todos fundamentam a minha escolha. Por causa desta certeza São Paulo ensinou o seguinte: «Depois disto, que nos resta dizer? Se Deus está connosco, quem estará contra nós? (...) Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor» (Rm 8, 31; 38-39).
Muitas vezes estamos habituados a pensar que a escolha trás consigo a ideia de perfeição e a santidade. Nada disto devia acercar-nos o pensamento. A escolha surge para melhor servir a todos e dar testemunho que Deus ama a todos de forma incondicional.
Porque pensamos de modo distinto desta visão, quando surgem as críticas menos simpáticas, logo aparece o desprezo, as caras macambúzias e com raiva contra tudo e contra todos. Tudo isto acontece nos grupos humanos quando o sentido da escolha não está assente no serviço e na total disponibilidade, por isso, a escolha muitas vezes cria pequenos ditadorzinhos soberbos sem cabeça. Saber escolher é essencial e sentir-se escolhido com humildade também não é menos essencial.
Termino com a ideia de que o sentimento de pertença não pode confundir-se com o sentimento de posse. Se pertenço à família, à empresa, à escola, à paróquia ou Igreja, devo saber estar e exercer a minha função sem qualquer sentimento de posse. A pertença mútua entre Deus e o seu povo, não se manifesta em termos de sentimentos de posse, nem ninguém é propriedade de ninguém. Tudo está em função do amor e nada está contra o amor.
Quem ama não põe condições. Simplesmente escolhe a melhor parte porque se sentirá feliz e porque é feliz saberá como corresponder para a felicidade dos outros. Porque soube escolher a melhor parte com sabedoria e inteligência, logo desde o início da sua procura definiu conscientemente que nem tudo o que luz é ouro. 

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