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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Os entendidos sobre a lei

Ainda está fresca a frase do Papa Francisco sobre a lei e sobre os que vivem apegados à lei como uma lapa, não para a aplicar a si mesmos, mas sobre os outros, mesmo que isso tantas vezes resulte em hipocrisia e fardos pesados. Disse assim: «Por trás da rigidez há algo escondido na vida de uma pessoa. A rigidez não é um dom de Deus. A mansidão, sim; a bondade, sim; a benevolência, sim; o perdão, sim. Mas a rigidez não! Por trás da rigidez há sempre algo escondido, em tantos casos uma vida dupla; mas há também algo de doentio. Quanto sofrem os rígidos: quando são sinceros e se percebem isso, sofrem! Porque não conseguem ter a liberdade dos filhos de Deus; não sabem como se caminha na Lei do Senhor e são beatos. E sofrem tanto! Parecem bons, porque seguem a Lei; mas por trás tem alguma coisa que não os torna bons: ou são maus, hipócritas ou são doentes. Sofrem!»
O mais importante do ser cristão ou outra forma qualquer de religiosidade passa sempre pela prática livre e deve conduzir sempre à libertação. Religião que oprima não serve para nada. É lixo.
Uma das histórias judaicas que se conta é que um dia, um homem pagão veio ao encontro de Schammai e pediu para ser convertido: «Converter-me na condição de que me ensinas toda a Torá, enquanto eu estou apoiado sobre um só pé», Schammai empurrou-o para fora com a régua na mão. Mas com mais paciência veio o mestre Hillel e que lhe disse: «O que não desejas para ti não o faças aos outros. Esta é a Torá, o resto é comentário. Vai e aprende».
A novidade cristã não está longe desta mesma ideia.
Os fariseus reuniram-se quando souberam que Jesus tinha feito calar saduceus. E um deles, que era mestre da Lei, querendo conseguir alguma prova contra Jesus, perguntou:
- Mestre, qual é o mais importante de todos os mandamentos da Lei? Jesus respondeu:
- «Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente» (Mc 12, 28-32). Este é o maior mandamento e o mais importante. E o segundo mais importante é parecido com o primeiro: «Ame os outros como te amas a ti mesmo». Toda a Lei de Moisés e os ensinamentos dos Profetas baseiam-se nestes dois mandamentos.
Jesus diz-nos que o primeiro mandamento é amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com toda a nossa mente, e é este amor ao Pai  que nos levará ao segundo mandamento de amar os outros como a nós mesmos. É impossível amar os outros se não me amo e não me aceito como sou, assim, o meu amor a Deus é mentiroso se não tenho amor pelos demais e a mim mesmo. Não posso dizer que sigo a Deus se odeio e desejo o que não é bom ao outro. Não posso dizer que sou enamorado por Deus se eu olho para a minha vida e não sou capaz de me aceitar com todas as minhas debilidades.
Este amor que Jesus nos chama a manifestar é um amor dinâmico que amplia os meus horizontes e nos leva a entender que não somos uma ilha e que dependemos do outro para sermos felizes, para nos desenvolvermos como pessoas e que ser Cristão é ser a expressão máxima do amor de Deus «assim como Jesus foi. Basta sempre ir por aqui: “Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti». (Thomas Merton, Homem algum é uma ilha).

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