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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Duas demissões provocam um pequeno tsunami na Igreja Católica

1. Fiquei surpreso e boquiaberto, como tanta gente na Igreja Católica e fora dela ficou com o pedido do Papa Francisco, para que o líder da Ordem dos Cavaleiros de Malta pedisse a sua demissão do cargo. A notícia cai assim como uma bomba: «o líder da ordem dos Cavaleiros de Malta, Matthew Festing, resignou hoje ao cargo, depois de o Papa o ter obrigado, ontem, a demitir-se». Meio mundo considerará brilhante, outro nem tanto. Eu digo, tem muito que se lhe diga e precisamos de analisar com serenidade esta posição, porque não veio a lume tudo o que provoco esta medida extrema.
É uma posição extrema da parte do Papa Francisco, após um processo meio esquisito que andou à volta de uma outra demissão. Este braço-de-ferro entre Matthew Festing e o Papa Francisco arrastava-se desde dezembro depois de um dos cavaleiros de topo da ordem, o alemão Albrecht Freiherr von Boeselager, ter sido demitido por ter permitido a utilização de preservativos num projeto no âmbito da saúde destinado aos pobres.
Não é que isto revele qualquer alteração da Igreja Católica quanto à doutrina sobre os contraceptivos, até porque o cavaleiro alemão, já afirmou que este foi apenas o pretexto e que ele seria uma vítima da guerra que os conservadores teimam em alimentar contra as reformas do Papa Francisco. Daí se compreender que circulem agora notícias que o Cardeal Burke, o rosto principal da oposição ao Papa Francisco, parece, que aconselhou o líder da Ordem de Malta, agora demitido, a desobedecer ao Papa.

2. Gostaria de me referir a dois pontos que considero essenciais nesta «guerra» entre o Papa e os conservadores. Um, é que, muitos dos problemas da Igreja Católica têm sempre como epicentro a questão da sexualidade. Outro, é que, os conservadores, finalmente, demonstram o que valem e que a «devoção» doentia ao Papa só existe enquanto o Papa corresponde aos seus interesses.

3. O tema da sexualidade na Igreja tem sido mais do que debatido. Até já cansa termos que reconhecer que muita da falta de credibilidade da Igreja perante a sociedade tem como uma das suas causas esta obsessão desajustada e inábil da sexualidade. A meu ver não deve «meter-se» a falar tanto sobre esta temática, uma instituição que afunila a sexualidade, não a reconheça como dimensão fundamental da pessoa humana, que tenha posições tão contra a dignidade humana, muitas vezes até ao ponto de querer inverter o curso natural das coisas. Por isso, sempre que se mete por aí falha redondamente e acaba a falar para o vento. Ninguém ouve e provoca descrédito, chacota e ridicularização. Não me admira nada que esteja instalada a confusão entre o Vaticano e a Ordem dos Cavaleiros de Malta. E sobre estas demissões, não sabemos da missa a metade.

4. A segunda questão. Nos tempos fortes do «endeusamento» do Papa João Paulo II e Bento XVI, lembro-me como tantas vezes não se podia falar, não se podia discordar e nem muito menos dizer-se uma frase que contestasse o Papa. Várias vezes ouvi: «aquela parede é branca, mas se o Papa disser que é preta, passo a dizer que é preta».
Felizmente, os tempos do Papa Francisco vieram quebrar este enguiço do seguidismo cego e surdo. É ele o primeiro, a dizer que gosta de ser confrontado com visões diferentes. Obviamente, que os tais conservadores do seguidismo dos Papas transactos, agora esperneiam e demonstram o seu desgosto perante as posições e as reformas do Papa Francisco, ao ponto de porem em causa, o seu sacro santo «sacramento», ouvir e seguir o Papa sem contestá-lo. Não lhes servem, afrontam e alimentam uma guerrilha preocupante, que não vislumbramos até onde nos vai levar. É preocupante.

5. Por fim, resta dizer que se espera que toda a Igreja caminhe com o Papa Francisco, para que o processo de «mudanças» venha a ter impacto em toda a Igreja Católica. A grande riqueza da Igreja é a sua diversidade e diferença. O esforço do Papa Francisco, desde o início, tem sido incluir todas as sensibilidades, é por isso, que se espera de todos, uma abertura a este espírito, para que nunca mais se volte aos tempos negros da condenação de teólogos, à recusa porque sim ao pulsar da vida de hoje e às posições intransigentes anti evangélicas contra aqueles que eventualmente tenham caído na desgraça do insucesso matrimonial. Nunca mais uma Igreja de puros e iluminados, mas uma Igreja em marcha, feita por pecadores que buscam o amor e o perdão de Deus.

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