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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O tirano da família

1. O presidente russo Vladimir Putin já assinou a lei que descriminaliza alguns actos de violência doméstica na Rússia. O projeto de lei já tinha sido aprovado pelas duas câmaras do parlamento e poderá agora ser implementado. Face ao exposto, nunca imaginaria ter que ler uma notícia deste teor, ainda mais se pensarmos naquilo que nos tem sobressaltado face as notícias de maus tratos que têm levado à morte algumas mulheres pelos seus maridos ou companheiros e crianças violentadas pelos seus progenitores.

2. O jornal Moscow Times diz que com esta lei, os actos de violência doméstica que não causem ferimentos graves, não obriguem as vítimas a procurarem tratamento hospitalar ou que não as obriguem a faltar ao emprego ou à escola, são tidos como contraordenações. Nesse chavão estão incluídas agressões que provoquem «queimaduras, contusões, feridas superficiais ou lesões dos tecidos moles». A penalização para estes casos é uma multa e a agressão só será considerada crime se ocorrer mais que uma vez. Só me ocorre uma simples palavra perante isto, inacreditável...

3. Porém, mais ainda é inacreditável as palavras que formam as justificações que os defensores desta lei apresentam. Vamos então aos seguintes detalhes, soberbamente curiosos. A lei foi aprovada na câmara do parlamento, com 385 votos a favor, com um, sublinho um voto apenas contra e uma abstenção. Os defensores da nova lei argumentam que a lei anterior limitava os pais de exercerem o «poder» na educação dos filhos e que a lei não permitia que eles impusessem aos filhos uma conveniente disciplina. Agora, o Estado não pode intrometer-se nas famílias. Bonito serviço. 

4. Mais ainda fiquei boquiaberto com as declarações de uma mulher, Yelena Mizulina, a deputada conservadora que apresentou a lei. Disse o seguinte: «Na cultura familiar tradicional da Rússia a relação entre pais e filhos é baseada na autoridade e no poder dos pais e as leis devem apoiar a tradição familiar, não queremos que as pessoas sejam presas por dois anos ou consideradas criminosas para o resto da vida por causa de uma chapada». Se não visse esta frase entre aspas e devidamente identificada, custava-me acreditar no que lia. Assim está o mundo em que vivemos.

5. O que pensa esta gente da violência doméstica que provoca distúrbios irreparáveis na alma, na dignidade, na personalidade e no carácter das pessoas e que deixa traumas para toda a vida? – Sim, aquela violência que insulta e humilha, com palavras, com traições, com a calúnia, a mentira, o jogo psicológico, a perseguição, as ameaças, as promessas de vingança, a impaciência, a falta de compreensão, de perdão  e todas as formas de violência que pode não recorrer à pancada física, é certo, mas que na realidade ainda é mais dura e mais prejudicial ao bem estar das pessoas no presente e no futuro… Será que estamos num tempo novo, o do «tiranos da família», que sob o efeito do álcool, das drogas e com as suas manias de poder absoluto pode dominar tudo a seu belo prazer, que ninguém tem nada com isso? – Mais um retrocesso grave que fará sofrer muitas famílias russas. 

6. A humanidade está em marcha atrás e vai para aquele ponto de onde, felizmente, tínhamos saído da violência famosa que várias vezes ouvimos, «quanto mais me bates, mais gosto de ti», ou da pancada com o ramo de flores, ou ainda da fatalidade do «tirano no seio do lar» que tanta instabilidade emocional provocava nos membros da família. 

7. Não posso crer nesta desordem mundial. Mais ainda se considerarmos que os poderes do mundo estejam a patrocinar e a legitimar esta nova desordem mundial que já sabemos o quanto de mal está a fazer às sociedades e neste caso da violência doméstica, às famílias. Fundo até sabemos tudo isto começou, não sabemos ainda onde tudo isto vai parar e para onde nos vai levar. 

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