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segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

A incredulidade dos crentes

Comensal divino
Hoje parece ser assim. Qualquer um de nós pode cair num «ateísmo inconsciente» ou numa religiosidade intimista, pessoal, que em privado não é nada, mas em público convém dizer-se que é «a minha religião»; o meu Deus»; «a minha forma de rezar», «a minha forma de reconciliar-me ou confessar»; «a minha religião»… (Quem sabe se a desonestidade que leva à tragédia das crises económicas e financeiras não resultam desta mentalidade?).
Tudo isto compõe o quotidiano de muitos homens e mulheres do nosso tempo. É triste, mas é a realidade. A vida hoje está marcada por um subjectivismo religioso exagerado, que desemboca naquilo que definiu o teólogo espanhol, Luís Gonzalez-Carvajal: «a incredulidade dos crentes». Quer o autor defender que, os não crentes também estão entre os religiosos mais fervorosos, sacerdotes, religiosos e religiosas.
São os crentes os primeiros a desanimarem. São os primeiros a caírem no pessimismo exagerado. Com frequência procuram nas bruxas e nos bruxos soluções impossíveis para as suas mazelas. Facilmente, se deixam manipular pelos trocadilhos balofos da linguagem das seitas. Não dão nada pela formação religiosa, simplesmente a recusam.
Devemos procurarmos caminhos sinceros de verdade e de beleza, que nos libertem da mediocridade, da incredulidade e de tudo o que oprime a dignidade, para edificarmos um ambiente à nossa volta que se apresente com a melhor qualidade para a grandeza da vida.

3 comentários:

francisco disse...

Sr. padre, posso colocar uma reflecção sobre o subjectivismo religioso? Dirijo-a a todos nós, Bispos, sacerdotes e fiéis para que tentemos encontrar o melhor modo de evangelizar e chamar quem está afastado. Gostava de saber a opinião do sr.padre.
Tenho de dividir em 3 comentários para poder ser aceite no blogue, desculpe ser longo.

Podemos ver o subjectivismo religioso em dois exemplos, na postagem acima onde é indicado "pregavam a paz, o amor, a solidariedade, a humanidade no seu melhor": o Envangelho tem estas componentes mas não é esta a mensagem principal e na postagem abaixo «O amor de Deus é forte como a morte»: Deus é amor mas o amor não é Deus e o temor filial de Deus é um dom do Espírito Santo.

Onde existe subjectivismo religioso na nossa evangelização que ajuda a uma generalização desse subjectivismo:

- Não anúnciamos claramente que existe uma só Verdade: "a Igreja anuncia a mensagem de salvação aos que ainda não têm fé, para que todos os homens venham a conhecer o único Deus verdadeiro e o Seu enviado, Jesus Cristo, e se convertam dos seus caminhos pela penitência" (Sacrosanctum concilium 9), existe a ideia que existem diferentes verdades e caminhos, que Jesus será a melhor manifestação de Deus mas que existem outras.

- Deus é Amor mas o amor não é Deus. Deus é um Ser real e concreto, é a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo em perfeita comunhão, não é um sentimento. São João na sua primeira carta explica qual é esse Amor em que devemos permanecer: "E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida" (1 João 4,9). Assim o Amor verdadeiro é amarmos como o Seu Filho para que recebamos a Vida de Deus (aqui na Terra na medida em que é possível e no Céu plenamente). O subjectivismo que vivemos indica que basta amar mas não nos indica que amor é esse, alguém que ama sobretudo as riquezas e satisfazer todos os seus desejos e só depois disso ama o próximo permanece no amor mas é esse o amor de Deus? Amar o próximo é fundamental e aí permanece-se no amor mas esquecendo Deus, tendo obras sem Fé, estamos no amor de Deus?
São João no seu Evangelho explica como é amarmos como Cristo: "É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos." (João 15, 12-13) e "Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor." (João 15, 9-10), assim vêmos que não é apenas amor, é amar a Deus e ao próximo, fazendo não a nossa vontade mas a de Deus, partilhar o Seu amor, ter os sentimentos de Cristo (humildade, serviço, paciência, etc.), praticar o bem a todos e ver as coisas e situações com o olhar de Deus, com misericórdia, justiça e santidade.


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francisco disse...

- No subjectivismo existe a ideia de que todos vamos para o Céu ou que isso não é assunto importante. No entanto a Igreja sempre ensinou e continua a ensinar que fora da Igreja não existe salvação, havendo apenas a excepção dos casos em que a pessoa não pode receber o Evangelho e conhecer a Igreja. Assim, relativizar a Fé e os sacramentos é colocar em risco a salvação. Esquecemos que os sacramentos e a redenção são obra da misericórdia de Deus, do Seu Amor, relativizar a salvação é ignorar a misericórdia que nos é oferecida querendo ir ainda mais longe.

- Existe a ideia que o exemplo da santidade dos Santos é coisa do passado, que a santidade é viver um compromisso de humanismo cristão, de forma ampla, irrestrita, ecuménica, englobando toda a humanidade, todas as religiões, todos os homens e todas as mulheres de boa vontade. No entanto a Lumen gentium continua a dar-nos os Santos do passado como exemplo: "Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do Povo de Deus, como patentemente se manifesta na história da Igreja, com a vida de tantos santos" e que isso é realizado tendo Jesus como mestre e modelo "Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a santidade de vida, de que Ele é autor e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição: «sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito» (Mt. 5,48)", "A todos enviou o Espírito Santo, que os move interiormente a amarem a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito e com todas as forças (cfr. Mc. 12,30) e a amarem-se uns aos outros como Cristo os amou (cfr. Jo. 13,34; 15,12).". A santidade é termos os sentimentos de Cristo e praticarmos o amor a Deus e ao próximo. E como podemos ter santidade sem Deus, sem nos formarmos na Sua Vontade com indica São João: "Sabemos que o conhecemos por isto: se guardamos os seus mandamentos. Quem diz: «Eu conheço-o», mas não guarda os seus mandamentos é um mentiroso e a verdade não está nele; ao passo que quem guarda a sua palavra, nesse é que o amor de Deus é verdadeiramente perfeito; por isto reconhecemos que estamos nele. Quem diz que permanece em Deus também deve caminhar como Ele caminhou." (1 João 2,3-6).

- Actualmente existe a ideia que ser cristão é criar um mundo melhor praticando um humanismo cristão ao mesmo tempo que se esquece o pecado original, que o espirito do mundo não é o espirito de Deus e que existe um antagonismo entre o mundo e o reino de Deus. Cristo explica que existe esse antagonismo: "Entreguei-lhes a tua palavra, e o mundo odiou-os, porque eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno. De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo." (João 17, 14-16) e São Paulo indica que a lógica do mundo nos afasta de ver brilhar a Luz: "Se, entretanto, o nosso Evangelho continuar velado, está velado para os que se perdem, para os incrédulos, cuja inteligência o deus deste mundo cegou, a fim de não verem brilhar a luz do Evangelho da glória de Cristo, que é imagem de Deus." (2 Cor 4,3-4). Assim temos que Cristo veio não para que sejamos felizes como cada um é, para apenas criarmos um mundo de paz e solidariedade. Ele veio para nos dar uma vida nova diferente da do mundo, no baptismo renascemos para a vida de Deus, já não vivemos como dantes, "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim." (Gl 2, 20). Criar um mundo melhor, em paz e solidariedade é apenas uma parte do reinado de Cristo em nós, faz parte mas não é o fim em si.

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francisco disse...

Este subjectivismo reflecte-se na prática na relativização de:

- A Santa Missa passa a ser vista apenas como uma celebração da comunidade em vez de ser "viver outra vez a paixão e a morte redentora do Senhor. É uma teofania: o Senhor torna-se presente no altar para ser oferecido ao Pai pela salvação do mundo" (Papa Francisco, audiência geral 8/11/2017), um oferecimento de acção de graças, propiciação, petição e louvor, uma oferta a Deus e na qual nós somos os beneficiários dessa oferta, realizada por Cristo, com Cristo e em Cristo.

- Comungar a Hóstia Sagrada é considerado como fazendo parte da celebração da comunidade em vez da participação plena neste sacramento ser "não só quando oferecem de todo o coração a Vítima Sagrada, e nela eles mesmos, ao Pai com o sacerdote, mas também quando recebem a mesma vítima sacramentalmente." (instrução Eucharisticum Mysterium 25/05/1967), ser uma comunhão com Cristo presente realmente em Corpo, Alma e Divindade, é Deus que vem fazer em nós morada e a partir dessa união e de nos formarmos em Cristo formarmos a união com o próximo no mesmo Corpo.

Como podemos transmitir a Verdade e fazê-la brilhar entre nós?
Obrigado e desculpe novamente o longo comentário.

(3/3)